segunda-feira, 18 de junho de 2007
sábado, 9 de junho de 2007
Aula 31 - Seminário
Mais um dia de seminários sobre o livro "História das Teorias da Comunicação".Complicado, mas com muita riqueza de conteúdo!Sinceramente, não tô gostando, pela dificuldade, mas já está acabando e é o último trabalho.
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Educação pode ser mais complexa do que estatística
A capa do caderno "Cotidiano" da Folha de S. Paulo (28/5/2007) deixa um pobre professor inquieto. Ele gosta de dar aulas, de aprender, duvida muitas vezes de seu ofício, de seu bolso, das instituições, mas ao menos uma certeza o move durante seu cotidiano quixotesco. Estudar é bom.
Mas então lê o subtítulo da capa:
"Estudo de economista da USP mostra que criança que sempre recebe ajuda dos pais nos estudos tem desempenho inferior".
Isto lhe soa estranho. Imagine uma mãe adicionando mais uma tarefa em seu atribulado cotidiano: fazer a lição de casa para o filho. Será que ela não sabe que estudar é bom? Ou será que deseja o mal ao sangue do seu sangue? Talvez seja uma questão de ignorância, de falta de educação... São muitas as possibilidades...
O economista é Naércio Menezes Filho, que fez o estudo, a pedido da Folha, com "regressões econométricas a partir do Saeb". As regressões são instrumentos matemáticos que nos permitem encontrar correlações sutis entre variáveis. Elas são úteis quando tentamos observar e quantificar coisas muito complicadas como ecossistemas ou relações humanas.
Uma estranha equação
Uma correlação, por sua vez, é algo do tipo "sempre que A muda, B tende a mudar também". Dito desta forma, parece que a mudança de A causou algo em B. Mas a idéia de correlação não diferencia A de B, a causa da conseqüência. Ou seja, pode ser que B tenha causado A. Ou que ambos sejam conseqüência de C etc. As correlações entre os fatos podem ser interpretadas de diversas formas...
Voltemos, então, à reportagem de Antonio Gois sobre as conclusões de Menezes:
"...o auxílio dos pais nem sempre é benéfico, pois alunos que sempre recebem essa ajuda têm médias menores que os demais".
Neste exemplo, quais seriam as duas variáveis correlacionadas?
A: ajuda dos pais
B: médias nos boletins
Assim, quando A aumenta, B diminui, ou seja:
Frase 1: quando os pais ajudam mais, as médias diminuem.
É realmente uma estranha equação. Para Menezes, ainda segundo a reportagem, "esses dados podem estar mostrando que os pais, em vez de orientar, estão fazendo a lição de casa pelo filho".
Esta é uma interpretação. Haveria outras dignas de menção?
Significados alternativos
Vamos, então inverter A e B, já que se trata de uma correlação.
A frase 2 seria: quando as médias diminuem, os pais ajudam mais.
Não sei para vocês, mas para mim soou bem melhor ao cérebro.
Parece algo mais próximo do que se entende por uma relação entre pais e filhos. Alguns poderiam contra-argumentar dizendo que nas condições precárias do Brasil as relações familiares estão desta ou daquela forma destruídas etc. Mas, segundo a reportagem, Menezes encontrou esta correlação mais intensa nas escolas particulares. É ali que os pais, mais escolarizados, estariam supostamente estudando para os filhos e, com isto, piorando suas médias...
São muitas as interpretações possíveis de um mesmo grupo de fatos. É preciso apontar os significados alternativos nos estudos estatísticos, visto que são tomados como algo "verdadeiro", "provado cientificamente".
O que pensaria uma mãe, afinal, ao ler o subtítulo daquela reportagem?
Informações limitadas
Um professor talvez se sentisse triste. Talvez chegasse a estas mesmas conclusões descritas acima. Ou, quem sabe, perceberia que as questões não são desse economista, desse jornal, ou daquele professor. Elas envolvem a todos nós. E ele escreveria alguma coisa aos seus amigos.
Observações metodológicas:
1. A análise feita aqui é simples como pareceu, e está sujeita a "detalhes da vida"... por isto, foram enviadas cópias a Menezes e à Folha.
2. Uma forma de detectar causa e efeito é inserir o tempo na equação. Talvez isto tenha sido feito. Seria o caso de perguntar a Menezes, então, o grau de consistência dos dados amostrais do Inep, para que pudessem ser decompostos em "fatias" ao longo do ano.
3. Chegamos, com isto, ao terceiro ponto. Os questionários distribuídos para os alunos no Saeb são realmente bastante detalhados, enfocando diversos aspectos familiares relacionados à educação. São questões de múltipla escolha, é bom lembrar. Não sabemos também, ao certo, como foram passados aos alunos.
Segundo o Inep, é recomendada a aplicação dirigida, até porque o analfabetismo funcional é grande:
"Os baixos níveis de desempenho em leitura revelados pelo levantamento anterior apontaram para a necessidade de se adotar a aplicação dirigida dos questionários."
Quanto poderíamos confiar nesses questionários? Ainda no site do INEP encontramos um texto que diz, no último parágrafo:
"Algumas informações sobre o núcleo familiar dos alunos são coletadas nos questionários por eles respondidos, e isso limita a qualidade e a quantidade das informações obtidas."
Aqui parece haver um curioso pressuposto:
Dados provenientes unicamente de questionários respondidos por alunos apresentam informações limitadas em qualidade e quantidade. Isto nos levaria a entender que os dados utilizados por Menezes são limitados. O grau deste limite permanece incerto, ao menos para leigos.
Mas então lê o subtítulo da capa:
"Estudo de economista da USP mostra que criança que sempre recebe ajuda dos pais nos estudos tem desempenho inferior".
Isto lhe soa estranho. Imagine uma mãe adicionando mais uma tarefa em seu atribulado cotidiano: fazer a lição de casa para o filho. Será que ela não sabe que estudar é bom? Ou será que deseja o mal ao sangue do seu sangue? Talvez seja uma questão de ignorância, de falta de educação... São muitas as possibilidades...
O economista é Naércio Menezes Filho, que fez o estudo, a pedido da Folha, com "regressões econométricas a partir do Saeb". As regressões são instrumentos matemáticos que nos permitem encontrar correlações sutis entre variáveis. Elas são úteis quando tentamos observar e quantificar coisas muito complicadas como ecossistemas ou relações humanas.
Uma estranha equação
Uma correlação, por sua vez, é algo do tipo "sempre que A muda, B tende a mudar também". Dito desta forma, parece que a mudança de A causou algo em B. Mas a idéia de correlação não diferencia A de B, a causa da conseqüência. Ou seja, pode ser que B tenha causado A. Ou que ambos sejam conseqüência de C etc. As correlações entre os fatos podem ser interpretadas de diversas formas...
Voltemos, então, à reportagem de Antonio Gois sobre as conclusões de Menezes:
"...o auxílio dos pais nem sempre é benéfico, pois alunos que sempre recebem essa ajuda têm médias menores que os demais".
Neste exemplo, quais seriam as duas variáveis correlacionadas?
A: ajuda dos pais
B: médias nos boletins
Assim, quando A aumenta, B diminui, ou seja:
Frase 1: quando os pais ajudam mais, as médias diminuem.
É realmente uma estranha equação. Para Menezes, ainda segundo a reportagem, "esses dados podem estar mostrando que os pais, em vez de orientar, estão fazendo a lição de casa pelo filho".
Esta é uma interpretação. Haveria outras dignas de menção?
Significados alternativos
Vamos, então inverter A e B, já que se trata de uma correlação.
A frase 2 seria: quando as médias diminuem, os pais ajudam mais.
Não sei para vocês, mas para mim soou bem melhor ao cérebro.
Parece algo mais próximo do que se entende por uma relação entre pais e filhos. Alguns poderiam contra-argumentar dizendo que nas condições precárias do Brasil as relações familiares estão desta ou daquela forma destruídas etc. Mas, segundo a reportagem, Menezes encontrou esta correlação mais intensa nas escolas particulares. É ali que os pais, mais escolarizados, estariam supostamente estudando para os filhos e, com isto, piorando suas médias...
São muitas as interpretações possíveis de um mesmo grupo de fatos. É preciso apontar os significados alternativos nos estudos estatísticos, visto que são tomados como algo "verdadeiro", "provado cientificamente".
O que pensaria uma mãe, afinal, ao ler o subtítulo daquela reportagem?
Informações limitadas
Um professor talvez se sentisse triste. Talvez chegasse a estas mesmas conclusões descritas acima. Ou, quem sabe, perceberia que as questões não são desse economista, desse jornal, ou daquele professor. Elas envolvem a todos nós. E ele escreveria alguma coisa aos seus amigos.
Observações metodológicas:
1. A análise feita aqui é simples como pareceu, e está sujeita a "detalhes da vida"... por isto, foram enviadas cópias a Menezes e à Folha.
2. Uma forma de detectar causa e efeito é inserir o tempo na equação. Talvez isto tenha sido feito. Seria o caso de perguntar a Menezes, então, o grau de consistência dos dados amostrais do Inep, para que pudessem ser decompostos em "fatias" ao longo do ano.
3. Chegamos, com isto, ao terceiro ponto. Os questionários distribuídos para os alunos no Saeb são realmente bastante detalhados, enfocando diversos aspectos familiares relacionados à educação. São questões de múltipla escolha, é bom lembrar. Não sabemos também, ao certo, como foram passados aos alunos.
Segundo o Inep, é recomendada a aplicação dirigida, até porque o analfabetismo funcional é grande:
"Os baixos níveis de desempenho em leitura revelados pelo levantamento anterior apontaram para a necessidade de se adotar a aplicação dirigida dos questionários."
Quanto poderíamos confiar nesses questionários? Ainda no site do INEP encontramos um texto que diz, no último parágrafo:
"Algumas informações sobre o núcleo familiar dos alunos são coletadas nos questionários por eles respondidos, e isso limita a qualidade e a quantidade das informações obtidas."
Aqui parece haver um curioso pressuposto:
Dados provenientes unicamente de questionários respondidos por alunos apresentam informações limitadas em qualidade e quantidade. Isto nos levaria a entender que os dados utilizados por Menezes são limitados. O grau deste limite permanece incerto, ao menos para leigos.
Aula 30 - Seminário
Primeiro dia de seminário sobre o livro "História das Teorias da Comunicação", e digamos que dia agitado hein?!
Um dos grupos não apresentou o trabalho, e outro não deu tempo.Apenas um dos grupos fizeram conforme o mandado.
Livro difícil e aula complicada.Eu, particularmente, não entendi nada..e pelo que eu percebi muita gente também não.Mas tá valendo..vamo que vamo que tá acabando =D
Um dos grupos não apresentou o trabalho, e outro não deu tempo.Apenas um dos grupos fizeram conforme o mandado.
Livro difícil e aula complicada.Eu, particularmente, não entendi nada..e pelo que eu percebi muita gente também não.Mas tá valendo..vamo que vamo que tá acabando =D
Aula 29 - Vídeos
Aula das mais diferentes ^^
Fomos todos para o anfiteatro e apresentamos os trabalhos sobre a "Indústria Cultural".Cada grupo deveria fazer um vídeo de 5 minutos explicando sobre a alienação.Muiiito bom!
O link do nosso vídeo está aí em baixo, quem se interessar, assista!
http://www.youtube.com/watch?v=7gpdYhVfSBc
Beeijos
Fomos todos para o anfiteatro e apresentamos os trabalhos sobre a "Indústria Cultural".Cada grupo deveria fazer um vídeo de 5 minutos explicando sobre a alienação.Muiiito bom!
O link do nosso vídeo está aí em baixo, quem se interessar, assista!
http://www.youtube.com/watch?v=7gpdYhVfSBc
Beeijos
terça-feira, 5 de junho de 2007
Por que é difícil encontrar quem saiba escrever??
Por Paulo Roberto de Almeida em 5/6/2007
O texto a seguir, sobre a obscuridade de certos escritos que encontramos nas páginas literárias de jornais e revistas, foi inspirado pela seguinte frase de Stefan Zweig, em correspondência particular, frase que "pesquei" na fabulosa biografia desse autor escrita por Alberto Dines:
"As pessoas que fazem ou falam literatura são totalmente incompreensíveis, parece-me mais um defeito da natureza do que uma virtude, mas talvez a arte tenha sido sempre condicionada por tais deficiências." [Stefan Zweig, carta a Friderike Maria von Winterniz (ex-Zweig), em 7/12/1940, citado por Alberto Dines, Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (3ª ed. ampliada; Rio de Janeiro: Rocco, 2004), p. 326.]
Stefan Zweig referia-se, obviamente, aos escritores como ele, romancistas ou literatos em geral, homens de letras, no sentido amplo, cuja prosa lhe parecia pertencer a um universo de referências escondidas, de significados obscuros, cuja compreensão talvez só estivesse ao alcance de outros membros da République des Lettres – que ele evitava freqüentar seja por comodismo ou timidez, seja por medo de entrar em polêmica a respeito de suas próprias convicções literárias ou a propósito do seu estilo de escrita.
Ele queria ser compreendido e amado pelo grande público e por isso buscava a concisão literária, a correção na forma, a perfeição na linguagem, a simplicidade no discurso, para que seu argumento atingisse o maior número possível de leitores. Sem deixar de ser profundo, e de fazer apelo à sua vasta cultura humanista, ele pretendia ser um escritor popular, o que requeria, obviamente, um cuidado especial com a linguagem escrita, de maneira a aproximá-la do cidadão comum, do leitor médio, do público cultivado mas não pretensioso, que refugava os maneirismos e preciosismos de linguagem de muitos dos seus colegas de pluma.
Erros primários
De minha parte, entendo que a frase de Zweig aplica-se ainda com maior acuidade e rigor ao trabalho dos filósofos, dos sociólogos, dos cientistas sociais em geral, cujo objeto de análise e de reflexões se volta para os campos mais ou menos subjetivos da organização social, das motivações políticas, das políticas econômicas; em síntese, dos assuntos humanos. Tenho encontrado, em muitos trabalhos de colegas, grandes doses de prolixidade na escrita, um desejo inconfessado de parecer sofisticado pelo rebuscamento inútil da linguagem, pela profusão nos conceitos e pela adjetivação exagerada das análises. Parece que eles acabaram de fazer um curso completo de redação obscura com um desses filósofos franceses adeptos do desconstrucionismo verbal, êmulos de Jacques Derrida e de Jean Baudrillard.
Isso pelo lado bom. Pelo lado ruim, o que mais tenho encontrado, na verdade, é a simples redação deficiente, uma linguagem caótica e rebarbativa, que por sua vez revela um pensamento desorganizado, uma confusão de idéias que passa longe do que se convencionou chamar de brain storming. Pelo lado catastrófico, então, cada vez mais deparo-me com a miséria da escrita, com uma linguagem estropiada por incorreções gramaticais, impropriedades estilísticas, quando não barbaridades ortográficas de tal monta que seriam capazes de fazer fundir um desses corretores automáticos de computador que detectam todos os erros de digitação. Mas, mesmo depois de o perpetrador em questão ter aplicado o seu corretor ortográfico informático e eliminado todos os erros de digitação, ainda sobram frases incompreensíveis, expressões sem sentido, reflexos de uma linguagem tortuosa e torturada que seria capaz de confundir o mais paciente revisor de estilo pago para fazer essa tarefa.
A pobreza da linguagem escrita no Brasil – já nem mais falo da linguagem coloquial, irrecorrivelmente contaminada pelo dialeto televisivo das novelas e programas de auditório – tem progredido a olhos vistos, acompanhando a rápida deterioração da educação no país. Acredito que não haja mais espaço, atualmente, para aqueles programas ao vivo voltados para testar o conhecimento de concorrentes sobre fatos gerais da história ou em destreza na língua escrita, que premiavam verdadeiras enciclopédias ambulantes, dicionários vivos da língua pátria. Tudo isso é passado, eu sei, mas será que não se consegue, ao menos, ter pessoas que consigam escrever ao menos num Português normal, desprovido de erros primários e de barbarismos estilísticos?
Deterioração generalizada
Não estou falando de profissionais "normais", mas de aspirantes a um título universitário de pós-graduação, que constitui a minha "clientela" mais freqüente. Tenho encontrado cada vez mais, nessas dissertações para as quais sou convidado para a banca julgadora, um tamanho volume de atentados à linguagem que penso seriamente em desistir de aceitar o convite, por mais que o título ou o tema possam me atrair. Vou pedir para ver o trabalho primeiro, antes de me decidir se aceito ou não participar. Não quero compactuar, nem que seja indiretamente, com as barbaridades lingüísticas e os atentados à boa escrita.
Não se trata de arrogância intelectual ou elitismo lingüístico, mas uma simples questão de coerência. Uma linguagem confusa, quando não incorreta, revela, antes de tudo, confusão nas idéias. Assim sendo, ao menor sinal de impropriedade redacional pode-se estar seguro de que a qualidade intrínseca do trabalho tampouco será superior ao estilo de redação. Como não pretendo deixar nem autor nem orientador constrangidos na hora da avaliação pública do trabalho, vou desistir preventivamente de participar. Acho que é o melhor que eu tenho a fazer nesta fase de deterioração generalizada da educação no Brasil.
Fica, portanto, dado o aviso. Antes de me convidar, favor procederem à revisão do português (e revisem as idéias também).
O texto a seguir, sobre a obscuridade de certos escritos que encontramos nas páginas literárias de jornais e revistas, foi inspirado pela seguinte frase de Stefan Zweig, em correspondência particular, frase que "pesquei" na fabulosa biografia desse autor escrita por Alberto Dines:
"As pessoas que fazem ou falam literatura são totalmente incompreensíveis, parece-me mais um defeito da natureza do que uma virtude, mas talvez a arte tenha sido sempre condicionada por tais deficiências." [Stefan Zweig, carta a Friderike Maria von Winterniz (ex-Zweig), em 7/12/1940, citado por Alberto Dines, Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (3ª ed. ampliada; Rio de Janeiro: Rocco, 2004), p. 326.]
Stefan Zweig referia-se, obviamente, aos escritores como ele, romancistas ou literatos em geral, homens de letras, no sentido amplo, cuja prosa lhe parecia pertencer a um universo de referências escondidas, de significados obscuros, cuja compreensão talvez só estivesse ao alcance de outros membros da République des Lettres – que ele evitava freqüentar seja por comodismo ou timidez, seja por medo de entrar em polêmica a respeito de suas próprias convicções literárias ou a propósito do seu estilo de escrita.
Ele queria ser compreendido e amado pelo grande público e por isso buscava a concisão literária, a correção na forma, a perfeição na linguagem, a simplicidade no discurso, para que seu argumento atingisse o maior número possível de leitores. Sem deixar de ser profundo, e de fazer apelo à sua vasta cultura humanista, ele pretendia ser um escritor popular, o que requeria, obviamente, um cuidado especial com a linguagem escrita, de maneira a aproximá-la do cidadão comum, do leitor médio, do público cultivado mas não pretensioso, que refugava os maneirismos e preciosismos de linguagem de muitos dos seus colegas de pluma.
Erros primários
De minha parte, entendo que a frase de Zweig aplica-se ainda com maior acuidade e rigor ao trabalho dos filósofos, dos sociólogos, dos cientistas sociais em geral, cujo objeto de análise e de reflexões se volta para os campos mais ou menos subjetivos da organização social, das motivações políticas, das políticas econômicas; em síntese, dos assuntos humanos. Tenho encontrado, em muitos trabalhos de colegas, grandes doses de prolixidade na escrita, um desejo inconfessado de parecer sofisticado pelo rebuscamento inútil da linguagem, pela profusão nos conceitos e pela adjetivação exagerada das análises. Parece que eles acabaram de fazer um curso completo de redação obscura com um desses filósofos franceses adeptos do desconstrucionismo verbal, êmulos de Jacques Derrida e de Jean Baudrillard.
Isso pelo lado bom. Pelo lado ruim, o que mais tenho encontrado, na verdade, é a simples redação deficiente, uma linguagem caótica e rebarbativa, que por sua vez revela um pensamento desorganizado, uma confusão de idéias que passa longe do que se convencionou chamar de brain storming. Pelo lado catastrófico, então, cada vez mais deparo-me com a miséria da escrita, com uma linguagem estropiada por incorreções gramaticais, impropriedades estilísticas, quando não barbaridades ortográficas de tal monta que seriam capazes de fazer fundir um desses corretores automáticos de computador que detectam todos os erros de digitação. Mas, mesmo depois de o perpetrador em questão ter aplicado o seu corretor ortográfico informático e eliminado todos os erros de digitação, ainda sobram frases incompreensíveis, expressões sem sentido, reflexos de uma linguagem tortuosa e torturada que seria capaz de confundir o mais paciente revisor de estilo pago para fazer essa tarefa.
A pobreza da linguagem escrita no Brasil – já nem mais falo da linguagem coloquial, irrecorrivelmente contaminada pelo dialeto televisivo das novelas e programas de auditório – tem progredido a olhos vistos, acompanhando a rápida deterioração da educação no país. Acredito que não haja mais espaço, atualmente, para aqueles programas ao vivo voltados para testar o conhecimento de concorrentes sobre fatos gerais da história ou em destreza na língua escrita, que premiavam verdadeiras enciclopédias ambulantes, dicionários vivos da língua pátria. Tudo isso é passado, eu sei, mas será que não se consegue, ao menos, ter pessoas que consigam escrever ao menos num Português normal, desprovido de erros primários e de barbarismos estilísticos?
Deterioração generalizada
Não estou falando de profissionais "normais", mas de aspirantes a um título universitário de pós-graduação, que constitui a minha "clientela" mais freqüente. Tenho encontrado cada vez mais, nessas dissertações para as quais sou convidado para a banca julgadora, um tamanho volume de atentados à linguagem que penso seriamente em desistir de aceitar o convite, por mais que o título ou o tema possam me atrair. Vou pedir para ver o trabalho primeiro, antes de me decidir se aceito ou não participar. Não quero compactuar, nem que seja indiretamente, com as barbaridades lingüísticas e os atentados à boa escrita.
Não se trata de arrogância intelectual ou elitismo lingüístico, mas uma simples questão de coerência. Uma linguagem confusa, quando não incorreta, revela, antes de tudo, confusão nas idéias. Assim sendo, ao menor sinal de impropriedade redacional pode-se estar seguro de que a qualidade intrínseca do trabalho tampouco será superior ao estilo de redação. Como não pretendo deixar nem autor nem orientador constrangidos na hora da avaliação pública do trabalho, vou desistir preventivamente de participar. Acho que é o melhor que eu tenho a fazer nesta fase de deterioração generalizada da educação no Brasil.
Fica, portanto, dado o aviso. Antes de me convidar, favor procederem à revisão do português (e revisem as idéias também).
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